Entrevista com o diretor de Seguridade da Previ Marcel Barros

O Sindicato dos Bancários do Piauí entrevistou o diretor de Seguridade da Previ, Marcel barros, sobre a entidade no contexto atual, processo de reestruturação do Banco do Brasil, saúde financeira da Previ. Marcel Barros tomou posse no Banco do Brasil em 1978. Ao longo de sua história foi secretário-geral da Contraf-CUT e coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB. Foi conselheiro deliberativo da Cassi de 2008 a 2010 e Auditor Sindical no BB indicado pela Contraf-CUT de 2009 a 2012. É formado em História e representa a América do Sul na Executiva do PRI - Global Compact ONU (princípios para investimentos responsáveis) desde março 2013.

A Previ tem mais de 100 anos de existência está entre os maiores fundos de pensão da América Latina e trabalha para garantir aos seus associados benefícios complementares aos da Previdência Oficial.

Confira a entrevista

SEEBF-PI – Como senhor avalia o processo de reestruturação do Banco do Brasil com o Plano Extraordinário de Aposentadoria Incentivada?

Marcel Barros – A gente tem que olhar para ele com duas visões. A instituição Banco do Brasil, ao criar um plano com a saída de 9 mil pessoas, estamos falando de 9 mil pessoas com conhecimento, experiência. Fechamento de mais de 400 agências, praticamente 10% do total de agências do Banco do Brasil. Isso, para a empresa Banco do Brasil, a meu ver, é negativo, porque tira a capacidade dessa empresa de atuar no mercado, deixando espaço para os entes privados que querem avançar sobre aquilo que conquistamos nos últimos 14 anos. Realmente é uma perda grande para o país. O plano de aposentadoria para o associado da Previ é um direito que ele pode exercer. No Plano Previ 1 foram 7200 e cerca de 600 pessoas do Plano Previ Futuro que tinham e exerceram o seu direito, e a partir de agora vão ter o benefício de aposentadoria vitalício. O impacto disso na Previ já estava mensurado. Nós fazemos um calculo bastante conservador de, quando a pessoa adquire o primeiro requisito para receber o benefício, a gente já considera como se ele fosse recebê-lo. Vai ter, logicamente, o impacto financeiro porque o desembolso passa a ser maior, em cerca de 8% a 9% ao mês, então vamos ter um impacto mensal aumentado, mas isso já estava previsto na nossa reserva matemática, não temos problemas de caixa em relação a isso.

SEEBF-PI – O impacto do plano está dentro do previsto pela Previ?

Marcel Barros – Está dentro do previsto. Nós temos hoje cerca de 4 mil pessoas que continuam tendo o direito de se aposentar a qualquer momento, então, nos nossos cálculos isso já está previsto. Se essas 4 mil pessoas resolverem se aposentar em um único dia, isso está previsto no nossos cálculos atuariais.

SEEBF-PI – Como está a saúde financeira da Previ?

Marcel Barros – No final de 2015 e início de 2016 nós tivemos muitas notícias desencontradas, gente querendo assustar as pessoas e se aproveitar de uma situação econômica delicada no mundo inteiro para atacar os fundos de pensões e querer abocanhar o nosso dinheiro. O que muitas pessoas fazem, infelizmente, é jogar o terror para o corpo social, com o objetivo de favorecer terceiros. Como tem, por exemplo, o projeto de lei 268 que quer entregar a gestão dos fundos de pensão para a iniciativa privada. Ora, nós vamos pegar 750 bilhões de reais, que é a economia dos trabalhadores, dos fundos de pensão, e entregar para os bancos privados tomarem conta? A gente viu o quê que fazem essas pessoas. Muita gente diz “ah, é preciso ter certificação, é preciso um monte de coisas”. Mas veja o Lehman Brothers, nos EUA, que levou à falência um monte gente, além deles mesmos, eram todos certificados, qualificados, mas não tinham responsabilidade com seus associados. Nós temos responsabilidade, porque também somos associados da Previ. Verificamos que tem muita gente que gosta de surfar na onda das más notícias para trazer um pouco de terror. Então, é essa certeza que a gente traz para quem está aposentado, nós temos saúde financeira. 2016 começou complicado e foi melhorando ao longo do ano. Nós tivemos um superávit, não foi um superávit enorme, mas já tem um superávit, demostrando que quando a gente dizia que o resultado era conjuntural em 2015, isso era verdadeiro. A gente tem uma perspectiva, principalmente no segundo semestre de 2017, que a economia mundial como um todo comece a andar um pouco mais, aí veremos os resultados, porque a gente tem uma boa parte dos nossos ativos aplicados na economia real, não ficamos só especulando com o título público, temos bastante coisa na economia real. Então, a primeira coisa que trazemos para quem já está se aposentado é trazer a tranquilidade de que temos recurso para pagar, temos fluxo de caixa bem mensurado e nossos ativos são ativos bons, fortes que com o tempo vão se valorizando, portanto, vai temos a condição de honrar os compromissos.

SEEBF-PI – Que orientação o senhor daria a quem está próximo de se aposentar?

Marcel Barros – Para quem está próximo de se aposentar, esses 4 mil que podem se aposentar a qualquer momento e os outros 7 mil, que ainda são do Plano Previ 1, nós orientamos sempre que façam assessoria previdenciária. Liga para o 0800 da Previ ou manda um e-mail para o Fale Conosco e agende horário para obter informações e orientações sobre sua aposentadoria. Quem é do Plano Previ 1 é bom fazer isso faltando dois ou três anos para se aposentar. Quem é do Plano Previ Futuro também tem que começar a se informar, porque já há bastante gente do Plano Previ Futuro que começa a ter os requisitos para requer o benefício. É importante que quem é do Previ Futuro também fique de olho no seu perfil de investimento, como pode fazer a contribuição adicional, se a contribuição 2B está ok. Ligar e fazer essa assessoria é importante.

SEEBF-PI – Como funciona o Plano 1 e Plano Previ Futuro?

Marcel Barros – O Plano Previ 1 é aquele mais antigo, que vigorou de 1967 até 1997, quando foi fechado. Quem entrou no banco até 1997 é filiado ao Plano 1. O Plano Previ Futuro é para os funcionários pós 98. Quem entrou no banco depois 98 está no Plano Previ Futuro. Esses planos são diferentes, porque um a gente chama de benefício definido, que é a média das 36 últimas contribuições do seu salário, de participação, é que vai definir quanto será o seu benefício. O Plano Previ Futuro é um plano de contribuição definida, por isso que é importante você saber qual o perfil de investimento, como estão as suas contribuições, porque é a somatória de suas contribuições que vai definir qual o valor do seu benefício. Hoje tem 11 mil pessoas da ativas no Plano 1, já considerando esse plano de afastamento que teve agora. Desse total, 4 mil já podem se aposentar a qualquer momento, já têm os requisitos, mais de 50 anos de idade e mais de 15 anos de filiação. O Previ Futuro, hoje, tem cerca de 1500 pessoas que se quisessem já poderiam se aposentar. Só lembrando que, como as pessoas contribuíram por pouco tempo, ainda não têm 30 anos de contribuição, (o plano tem 18 anos) o benefício ainda não é aquele esperado.

SEEBF-PI – Que análise conjuntural você faz para 2017?

Marcel Barros – Existem duas situações diferentes. Para quem tem recursos para investir vai ter um momento favorável, principalmente no segundo semestre, porque a gente está vendo um momento do governo federal de privatizações. Vamos viver de novo o que a gente tinha na segunda metade dos anos 90, quando quem tinha dinheiro comprou muita coisa boa barata. Então, para nós da Previ a gente tem essa possibilidade, infelizmente para a sociedade brasileira, para nós não, é um bom investimento. Se tenho uma empresa de boa qualidade para comprar eu vou fazê-lo, também, logicamente, como os negócios vão andar a gente tem a possibilidade de desfazer de ativos nossos, como fizemos, recentemente, com a CPLF. Para a sociedade eu diria que 2017 vai ser um ano de muita resistência e muita luta, são coisas antagônicas, porque boa parte desse ganho que estamos prevendo vem, na verdade, de tirar direitos de trabalhadores. Se o custo de produção é menor, eu tenho um lucro maior.

SEEBF-PI – É um dinheiro que vem à custa do arrocho ao trabalhador, mas do ponto de vista do capital vem mais fácil, como superar essa dicotomia?

Marcel Barros – A gente teria que trabalhar um setor produtivo mais forte, empresas que respeitassem os direitos dos trabalhadores, responsáveis do ponto de vista social. Na Previ a gente trabalha muito nesse sentido, investimento responsável. Empresas que não respeitam o meio ambiente, não respeitam os direitos sociais, não respeita direitos trabalhistas, a gente não vai colocar dinheiro nessa empresa. Então, de um lado vamos ter uma boa oportunidade de investimentos, mas não podemos esquecer os nossos princípios. Os movimentos sociais têm que ficar muito atentos esse ano, porque vai ter uma caça aos direitos trabalhistas, sem nenhuma dúvida. Já está acontecendo.

SEEBF-PI – Como o senhor vê o Banco do Brasil nesse contexto de ataque às empresas públicas?

Marcel Barros – O que tenho dito para as pessoas que me perguntam sobre isso, é que é o preço do golpe. O golpe foi financiado, votos foram comprados. Alguns bancos privados já começaram a dizer abertamente que querem gerir os recursos do Fundo de Garantia (FGTS), mas só os recursos, só ganhar dinheiro com isso, financiar a casa própria continua com a Caixa Federal. O movimento que nós estamos vendo no Banco do Brasil e na Caixa, nada mais é do que um pagamento pelo que foi entregue aos golpistas. Enfraquecer o Banco do Brasil, a Caixa e os bancos públicos de forma geral é um dos preços do golpe. Vamos ter um tempo de resistência dentro dos bancos públicos muito grande, porque a banca privada vem com bastante sede para tentar recuperar o espaço que perderam nos últimos 14 anos, quando os bancos públicos garantiram os direitos dos seus trabalhadores, mas também cresceram bastante. Banco do Brasil, Caixa, BNB e Basa voltaram a atuar como balizadores no mercado, cresceram tanto no ponto de vista de pessoas físicas como jurídicas, e o fechamento de agências do Banco do Brasil e Caixa atendem a interesses da banca privada.

SEEBF-PI – Um conselho para os associados à Previ

Marcel Barros – A gente fala para o associado da Previ assim, “fique tranquilo, mas continue atento, acompanhe o seu plano de previdência e não dê ouvidos a pessoas mal intencionadas”. A fonte de informação é muito importante, quando se tem um sindicato, como o sindicato do Piauí que é referência, tem credibilidade é uma boa fonte de informação. Vá ao site da Previ, mande e-mail se tiver alguma dúvida que a gente responde, através do Fale conosco. Porque se você for para as redes sociais, a quantidade de absurdos e inverdade é muito grande. Tenha tranquilidade, nós estamos trabalhando. Quem foi eleito e está lá, foi eleito para cuidar do dinheiro dos associados e estamos fazendo isso, mas mantenha-se informado, procure acompanhar o seu plano porque é isso que vai dá força para a gente realizar o que a gente propôs quando viemos aqui pedir o apoio das pessoas.