A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e demais centrais sindicais lançam, nesta quarta-feira (30), a Campanha Nacional em Defesa das Estatais e do Serviço Público. Serão realizados atos presenciais e virtuais em diversos locais do país. A campanha será permanente e visa denunciar à sociedade os prejuízos causados à população pelo processo de destruição do setor público brasileiro, que vem sendo intensificado pelo governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), com a busca de privatização de estatais estratégicas para o país, diversos ataques aos servidores e o sucateamento do serviço público prestado à população.



A população brasileira, que já sofre com a falta de estrutura e as dificuldades de acesso a serviços públicos, como na área da saúde e da seguridade social, com postos, hospitais e agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com equipamentos velhos e sem o contingente suficiente de servidores para prestar atendimento, corre o risco de perder totalmente o direito ao serviço público. A proposta de Emenda Constitucional da reforma administrativa (EC 32), que Bolsonaro enviou ao Congresso, faz com que os serviços públicos passem para as mãos de Organizações Sociais (OS) e outros instrumentos que estão previstos em Lei que precarizam o trabalho e baixam a qualidade dos serviços prestados ao povo.



“A maioria da população já entendeu que se é público é para todos e que o setor privado visa apenas o lucro, a exemplo dos planos de saúde, que poucos podem pagar por um ótimo plano que dá acesso aos melhores hospitais, exames e serviços. E quando o tratamento é muito caro eles jogam o custo para o SUS. Cobram diferente conforme a faixa etária tornando impeditivo para os que tem mais idade e que, normalmente usam mais. O ideal é investir na saúde pública e esse governo está fazendo o oposto, tirando recursos, mesmo na pandemia”, disse Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), lembrando do aumento dos custos de energia, gás e gasolina, que foram ou estão sendo repassados à iniciativa privada.



Juvandia comentou também do desmonte dos Correios, que está sendo promovido por Bolsonaro, lembrando da importância da empresa para os brasileiros e que hoje está em todo o Brasil, mas se for privatizado muitos municípios deixarão de receber encomendas; remédios etc. levados pela empresa pública, assim como os bancos privados não querem estar nos municípios menores.


“Bolsonaro representa um projeto que visa a entrega do patrimônio público ao setor privado. Estão promovendo um desmonte tamanho que, daqui a pouco, todos os brasileiros terão de pagar pela saúde, pela educação, segurança, acesso a água e por todos os demais serviços públicos. E somente quem vai conseguir pagar são os ricos, não os trabalhadores, nem os profissionais liberais, micro e pequenos empresários”, completou Juvandia presidenta da Contraf-CUT.

 

Bancos públicos

Além dos trabalhadores de bancos públicos, toda a população pode ser afetada pelas propostas do governo Bolsonaro, incluindo a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste Brasileiro. “Sabemos da importância dos serviços prestados pelos bancos públicos em todo o país. Nos bairros e cidades afastados dos centros comerciais, o serviço bancário é garantido somente pelos bancos públicos. Os bancos privados concentram suas agências e sua atuação nas regiões e locais onde a população tem maior renda”, disse a economista Vivian Machado, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), ressaltando que o serviço prestado pelos bancos privados é uma concessão pública.


Um levantamento realizado pelo Dieese aponta que os bancos privados concentram sua atuação na região Sudeste, mais especificamente na cidade de São Paulo. Essa realidade é constatada tanto em número de agências, quanto no montante de crédito. Os dados apontam que 42% dos municípios do país não possuem nenhuma agência bancária. Em 7% não qualquer tipo de atendimento bancário. Os dados mostram que, de janeiro a abril de 2020, foram fechadas 283 agências bancárias no país.



Em 2012, os bancos atendiam 66% dos municípios brasileiros. Atualmente, em apenas 58%.



A redução de unidades atinge também os bancos públicos. Nos últimos três anos a Caixa perdeu 42 agências. E março de 2017, o banco contava com 3.414 agências; em março de 2020, com 3.372 agências. No Banco do Brasil, a redução de agências começou a partir de 2015. No final de dezembro de 2014 o BB possuía 5.524 agências. Em março de 2020 apenas 4.368. Uma redução de 1.156 unidades só do BB.



Em alguns estados, a situação é extremamente crítica, como em Roraima, onde dos 15 municípios, apenas quatro contam com agências bancárias. Em três deles existem apenas agências de bancos públicos. Bancos privados, apenas na capital. “As pessoas precisam se deslocar por longas distâncias, irem para outras cidades para poder contar com os serviços de um banco. Em grande parte das vezes, quando encontra, precisa enfrentar longas filas, porque os bancos, além de reduzir as agências, também estão reduzindo o quadro de funcionários”, disse a economista Vivian Machado, do Dieese, uma das responsáveis pelo levantamento das informações.


O sucateamento, que afeta o atendimento à população, também ocorre com a redução do quadro de funcionários. A Caixa, por exemplo, chegou a ter 101.484 empregados em 2014. Nos resultados do balanço do 1º trimestre de 2020, o banco informou que possui quadro de pessoal com 84.113 trabalhadores.

 

Concentração do crédito

A economista do Dieese afirma ainda que os bancos privados concentram sua atuação na região Sudeste. “Isso é constatado não apenas no número de agências, mas também na concessão de crédito. Os bancos privados só concedem mais crédito na região Sudeste, nas outras quatro, a maior parte do crédito é dos bancos públicos, chegando próximo aos 90% no Norte, Centro-Oeste e Nordeste e a 80% no Sul”, informou a economista do Dieese.



Dados do Banco Central apontam que 90,9% do crédito concedido no Norte tem origem nos bancos públicos; no Centro-Oeste, 88,1% provém de bancos públicos, no Nordeste 84,8% e no Sul 80,5%.


“Este número já foi maior, mas desde 2015 os governos estão reduzindo o poder de atuação dos bancos públicos”, alertou a economista do Dieese.



“Este é mais um dos motivos pelos quais é tão importante defendermos os bancos públicos. São eles que atendem as necessidades da sociedade. Os bancos privados se preocupam com o lucro e com a rentabilidade que terão com o negócio”, concluiu a presidenta da Contraf-CUT.



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