O Brasil vive o pior momento da pandemia do coronavírus (Covid-19). Uma semana após atingir 250 mil mortes, o país registrou mais duas tristes marcas, na terça-feira (3): o maior número de óbitos de toda a pandemia e a maior média móvel de mortes. Foram 1.726 mortes em 24 horas, superando assim o recorde anterior de 1.582 óbitos em um dia, registrado na quinta-feira (25). O levantamento é do consórcio de veículos de imprensa, com base nos dados fornecidos pelas secretarias estaduais de saúde. Pelo quarto dia consecutivo, o país apresentou a maior média móvel de mortes desde o início da pandemia no Brasil: 1.274. Com isso, o país registra mais de uma morte por Covid-19 por minuto em 24 horas. Desde segunda-feira (2), o país voltou a ter tendência de aceleração na comparação com 14 dias atrás. Hoje a alta foi de 23%.

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu um boletim no qual destacou que é a primeira vez desde o início do alastramento do vírus em território nacional que o Brasil acumula aumento do número de infecções e mortes, continuidade da alta incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), sobrecarga de demandas nos hospitais e alta positividade de testes de Covid-19 entre a população.

Enquanto isso, a vacinação caminha com lentidão. São cerca de 8,5 milhões de doses aplicadas, mas apenas 0,9% dos brasileiros estão totalmente imunizados por terem recebido as duas doses necessárias, seja da CoronaVac, seja da Oxford-AstraZeneca.

Na noite de terça, o presidente Jair Bolsonaro vetou trechos de uma Medida Provisória apresentada pelo Congresso para facilitar a compra e distribuição de vacinas. Com isso, ele barrou as principais iniciativas desenhadas para ampliar a proteção dos brasileiros. Entre eles, derrubou a autorização para que estados e municípios adotassem medidas para garantir a vacinação dos cidadãos, em caso de omissão do governo federal. Também vetou o prazo de cinco dias para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorize a utilização de um imunizante que já tenha aprovação nos principais países do mundo, como Estados Unidos, União Europeia, China e Rússia.

Todo este cenário moveu milhares de internautas a se manifestarem pela saída do presidente Jair Bolsonaro da Presidência da República. #ImpeachmentOuMorte foi o segundo assunto mais comentado do Twitter na manhã desta quarta-feira (3).


Além da falta de vacinas e das sabotagens cotidianas de Bolsonaro às medidas de distanciamento social, a deterioração da economia também motivou protestos. A queda histórica no PIB, o avanço da inflação dos combustíveis e dos alimentos, o desemprego e a demora na prorrogação do auxílio emergencial foram lembrados.

De acordo com o cientista político Cláudio Couto, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), as condições para o impeachment do presidente Jair Bolsonaro “estão dadas”. Enquanto sobram crimes de responsabilidades, ele segue sabotando o combate à pandemia do novo coronavírus.

Em vez de coordenar os esforços em nível nacional, Bolsonaro abriu novo “conflito aberto” com os governadores. Nesta semana, ele anunciou que os estados que adotarem medidas restritivas deverão bancar o auxílio emergencial.

Para Couto, falta justamente uma atuação política mais efetiva dos governadores e prefeitos contra as atitudes do presidente. Trata-se de figuras políticas que também foram eleitas, e têm grande influência sobre as bancadas estaduais na Câmara dos Deputados. Além disso, segundo o analista, setores da sociedade civil também deveriam abandonar posturas particularistas, em nome dos seus interesses privados, para abraçar uma causa maior, em defesa do país.



“Enquanto prefeitos e governadores estão se dando conta do cataclismo que estamos vivendo e tentam tomar providências, o presidente vai no sentido oposto. Ele nega a gravidade da pandemia. Por conta disso, Bolsonaro pode ser claramente colocado ao lado dos grandes vilões da história política da humanidade”, declarou Couto, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (3).

 

Fonte: Contraf



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