O Brasil de hoje tem a maior população jovem da sua história – são mais de 47 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), correspondendo a 23% da população brasileira. Mas também é esta a parcela mais afetada pelo desemprego e por cortes de recursos do governo federal às políticas públicas.

Também de acordo com dados do IBGE, cerca de metade da população entre 15 e 19 anos está desempregada. Como se não bastasse esse cenário, o governo federal publicou, em 4 de maio, a Medida Provisória nº 1.116, congelando de imediato cerca de 90 mil vagas de aprendizes nos primeiros 3 meses, com perspectivas de redução de 46% do total de vagas hoje existentes no programa, segundo informações do artigo de Kelly Lopes, no jornal Estadão. Ao mesmo tempo, levantamento obtido pelo jornal Brasil de Fato mostra que, em 2022, o governo Bolsonaro cortou em 93,5% o orçamento da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), que já vinha caindo significativamente nos anos anteriores.

“Não sabemos ainda o alcance histórico, o tamanho dos prejuízos que a geração atual da juventude sofrerá nos anos seguintes, em decorrência do acesso reduzido às políticas públicas e da falta de oportunidade no mercado de trabalho”, avaliou a secretária da Juventude da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Bianca Garbelini. “Mas é fato que o grupo formado pelos jovens das classes C, D e E, mais vulnerável, foi praticamente deixado à própria sorte pelo governo atual”, lamentou.

 

Prejuízos à juventude bancária

Bianca observou que os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), sobre a categoria bancária, revelam um movimento, por parte dos bancos, de usar as novas contratações para promover a troca de trabalhadores mais velhos por trabalhadores da faixa de 18 a 29 anos. O grupo mais jovem, porém, recebe, em média, 86,7% do salário do grupo demitido.

“Temos que ficar atentos a este movimento, em que os bancos estão enxugando postos de trabalho demitindo bancários mais experientes, com salários maiores, e contratando mais jovens, com salários menores. Por causa do alto índice de desemprego, a insegurança da primeira experiência e falta de acesso às políticas públicas, os jovens podem acabar aceitando, no trabalho, mais a precarização em todos os âmbitos”, ponderou Bianca. “O que precisamos é de mais contratações, favorecendo tanto os trabalhadores que já estão ocupados como também os jovens que estão ingressando no mercado”, continuou.

 

Pela consciência

“No médio e no longo prazo, a falta de políticas voltadas à juventude tende a atingir não apenas os jovens de baixa renda, no que diz respeito aos direitos básicos de educação, saúde e proteção contra a violência, mas toda a população jovem, porque afasta dela a consciência cidadã e dos seus direitos. A juventude atual está crescendo, portanto, sem esse referencial de classe e, quando chega para trabalhar em um banco, privado ou público, atua de forma isolada, ficando mais suscetível a aceitar perda de direitos e a aceitar a precarização no trabalho”, pontuou.

A secretária também destacou que a maior parte dos jovens entre 17 e 29 anos que ingressam no setor financeiro não estão sendo absorvidos pelos bancos, mas por outras áreas deste mercado, que não contam com a mesma estrutura sindical dos bancários, que defende os direitos dos trabalhadores e cria consciência de classe.

“Segundo dados tabulados pelo Dieese, a partir do Caged, entre abril de 2021 e abril 2022, das 50.283 contratações de jovens entre 17 e 29 que ocorreram no setor financeiro, apenas 12.783 (25,4%) foram para a categoria bancária, enquanto 37.500 (74,5%) ocorreram nas demais categorias do setor”, completou.



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