A cada nova onda de reestruturação do setor financeiro há o objetivo dos bancos de descartar mão de obra humana ou mesmo caixas eletrônicos, promovendo a dispersão da força de trabalho, que avançou na última década.

A avaliação é do economista Gustavo Cavarzan, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) feita neste sábado (15), na 3ª Conferência Estadual dos Bancários, realizada em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. O palestrante falou que “as mudanças tecnológicas e de regulação do sistema financeiro, como a reforma trabalhista, além de mudanças nas políticas econômicas têm substituído a mão de obra bancária.

“Os bancos investem bilhões em novas tecnologias, especialmente o setor privado em um sistema financeiro altamente concentrado no Brasil”.declarou, se referindo ao fato de que estas instituições controlam 84,8% das operações financeiras.

Migração para plataformas digitais

Cavarzan disse que o tipo de tecnologia investido pelo bancos é especialmente da inteligência artificial, destinada a criar ferramentas de controle de dados dos clientes, oferecendo mais produto e elevando a taxa de venda das empresas.

“Hoje temos uma forte migração das transações bancárias para as plataformas digitais”, declarou, lembrando que, no passado, as greves nas agências afetavam as operações dos bancos, mas que hoje, apenas 2% das transações são feitas nas unidades físicas.

Robôs de investimentos

O palestrante tratou também do avanço da tecnologia, inclusive da inteligência artificial no setor.

“Nas plataformas digitais não apenas as operações mais simples, como consulta de saldo e extrato são realizadas, mas também as mais complexas, como contração de empréstimos e investimentos”, explicou, acrescentando que 86% destes investimentos são feitos através de canais digitais.

“Existem robôs aconselhadores que, com base em dados, apontam os melhores investimentos para os clientes”, ressaltou.

Cavarzan disse ainda que “algumas mudanças e inovações tecnológicas vão sendo combinadas com mudanças regulatórias e legislativas, como reformas e regulações do Banco Central, que atendem aos interesses dos bancos.  

Queda no número de bancários

O número de bancários está caindo nos últimos dez anos enquanto que a presença de trabalhadores não-bancários se expandiu 60% no setor neste período. “Hoje eles representam 40% do setor formal de trabalho em empresas do setor financeiro”, explicou. Disse que um grande desafio é a representatividade sindical destes novos empregados, em função da alta rotatividade que reduz o tempo de permanência deles no emprego nas cooperativas de crédito e correspondentes, gerando uma dificuldade para o movimento sindical.

Precarização do trabalho

A precarização ainda maior do trabalho destes funcionários que não estão cobertos pela Convenção Coletiva de Trabalho da categoria também foi apontada como um desafio para os sindicatos: 1/3 destes trabalhadores têm jornada de até 30 horas semanais. Nas outras categorias do ramo apenas 6% têm jornada de seis horas diárias e 40% possuem uma jornada muito maior.

“Na questão da remuneração apenas 4% dos bancários recebem até três salários mínimos e nos trabalhadores não-bancários, este índice chega a quase 50%”, afirmou.

Canal de diálogo e novas estratégias

Para o economista do Dieese, cada base precisa conhecer as suas especificidades para entender para onde está indo o emprego.

“É preciso abrir um canal de diálogos com sindicatos dessas outras categorias”, sugeriu, destacando o crescimento vertiginoso no número de cooperativas de crédito e na redução de agências bancárias. Apontou que há hoje 11 mil estabelecimentos prestando serviços de correspondente bancário, um número  7,6 vezes maior do que o de agências bancárias.

“O movimento sindical precisa definir planos de luta em todos esses locais e é possível localizar onde estão estes trabalhadores correspondentes”, ressaltou.

Cavarzan citou ainda as novas formas de inserção de agentes autônomos de investimento, que são Pessoa Jurídica em plataformas, como da XP Investimentos, que possui no Brasil 25 mil trabalhadores, sendo 10% (2.100) no Rio de Janeiro.

“Boa parte desses trabalhadores não bancários estão na cadeia de valores do banco, dispersos, estão gerando valores para a mesma empresa, exercem atividade similar a dos bancários porém em condições de trabalho muito mais precárias. Como buscar canais de diálogo com estes trabalhadores?”, questionou.  



Fonte SEEB - Rio de Janeiro tags:»






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