Excluídos “gritam” por justiça social
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Manifestações e caminhadas ocorreram em diversas cidades do país na quinta-feira, 7 de setembro, para pedir melhores condições de vida para a população brasileira, sobretudo para as pessoas que se encontram em maior vulnerabilidade social. As atividades da 29ª edição do Grito dos Excluídos foram realizadas por pastorais sociais, movimentos populares e sindicatos em todo o país.
Na edição deste ano, ao tema permanente de defesa da “vida em primeiro lugar” somou-se o questionamento “você tem fome e sede de quê?” “A intenção é aprofundar o debate sobre as desigualdades e as ‘fomes’ que temos hoje em nosso país, que vai para além da fome do alimento em si”, explicou a secretária executiva do Jubileu Sul, Rosilene Wansetto, que faz parte da coordenação nacional do Grito dos Excluídos.
Para os organizadores do Grito dos Excluídos, a segurança alimentar é fundamental, mas não basta você ter o arroz e o feijão se você não tem os nutrientes e as condições de vida asseguradas. “Então, o debate é sobre segurança alimentar, mas também sobre a fome de cultura, de lazer, de saúde, de moradia, terra, reforma agrária, justiça social”, afirmou Rosilene. “O questionamento traz esses elementos de acesso aos direitos, assim como de fome por maior participação, por sede de democracia, solidariedade, soberania, pelo fim das desigualdades, desse modelo de tributação que privilegia os ricos e joga uma sobrecarga em cima da população mais pobre”, completou a secretária do Jubileu Sul, uma rede de movimentos e pastorais sociais, que está organizada em diversos países da América do Sul e da América Latina.
Para o secretário de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Elias Jordão, é importante que os sindicatos contribuam com a organização e apoiem as manifestações. “Somos trabalhadores. Também somos excluídos por este sistema que gera pobreza para muitos e riqueza para poucos. Por este sistema que usufrui da força de trabalho da maioria para gerar lucros e benefícios para poucos”, disse. “O grito dos excluídos ecoa as reivindicações dos trabalhadores. Temos que nos unir e fazer eco deste grito”, completou.
A secretária executiva do Jubileu Sul explicou que existem gritos gerais de todo o país e outros mais regionalizados. “Nossa população tem muita ‘fome’. Somos um povo muito sofrido e necessitado. Cada localidade levou para as ruas as suas fomes e suas sedes. Mas, também as fomes que atingem a todos”, disse Rosilene ao afirmar que situações que envolvem o desrespeito aos direitos dos povos indígenas e a violência contra as mulheres, a população negra e a juventude foram temas mais gerais. “Apareceram várias denúncias, mas num país que em torno de 63% das mulheres já sofreram algum tipo de importunação ou violência, que indígenas correm risco de perderem suas terras… são temas que não teria como não aparecer”, completou.
Rosilene ressaltou que há mais de 10 anos o Grito dos Excluídos traz como tema principal a defesa da vida. “Defendemos a vida em sua integralidade e a questão das desigualdades, que se aprofundam, deixam a vida numa situação de maior vulnerabilidade. Por isso, defender a vida na sua integralidade significa defender os direitos humanos, os direitos sociais, socioeconômicos e políticos”, explicou a coordenadora do Jubileu Sul, ao ressaltar que “esse tema se tornou motivador do ‘Grito’ porque, quando a gente observa os eixos, os objetivos da mensagem mais profunda, lá está a defesa da vida, e a defesa da vida humana, a defesa da vida do planeta e de todos que o habitam”, concluiu.
Ao ser questionada se já havia um balanço das manifestações, Rosilene explicou que as manifestações que ocorrem no dia 7 de Setembro são importantes para fazer uma contraposição às comemorações ufanistas da independência, mas que elas não ocorrem apenas na data. “Ainda estamos fazendo o levantamento, que é realizado em mutirão. Mas, já temos notícias de que houve atos antes do dia sete. Outros ocorrerão no sábado (9) e no domingo (10) e outros ocorreram e ocorrem no decorrer do mês e do ano em todo o país, tanto em cidades grandes quanto em pequenas comunidades da floresta amazônica”, informou.
Mas, para a organização do Grito dos Excluídos, apesar de haver atos constantes durante todo o ano, as manifestações na semana da Pátria continuam sendo um chamariz e uma novidade. “Infelizmente, houve cidades no Sul do país que não puderam realizar o ‘Grito’ por causa das enchentes. Todo o movimento se entristeceu e se solidarizou com o ocorrido, que é um grito da natureza por mudança nos rumos que a sociedade tomou. Mas também temos notícias que em muitos lugares foi um ‘Grito’ bastante bonito, colorido, diverso, plural, trazendo para a pauta as agendas dos movimentos, das organizações populares, das pastorais. Isso reforça o princípio de construirmos as manifestações com base na unidade, no debate coletivo, dando voz e vez aos excluídos”, concluiu.
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