O terceiro painel do 32º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (CNFBB), realizado na tarde deste domingo (8), os palestrantes contribuíram com as reflexões sobre “O BB que queremos para o futuro do Brasil”.



Para o ex-funcionário do Banco do Brasil e ex-dirigente sindical do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Carlos Augusto Vidotto, o que de mais genérico vale para todo mundo, não apenas para o Brasil e nem apenas para o Brasil, é que, para qualquer pais, é importante não haver desindustrialização para que não haja perdas de postos de trabalho e da capacidade de produção. “Em termos mais próximos, uma coisa geral do capitalismo é a questão do open banking, que está sendo levado à estrutura do mercado financeiro. Ele materializa o que seria a grande ameaça aos empregos, em particular ao emprego bancário”, disse. “Mas, ninguém pode morrer de véspera. Não podemos baixar as armas e deixar de lutar para tentar deter os impactos da tecnologia sobre os empregos”, completou.



Segundo Vidotto, uma das propostas é trabalhar com uma ampla aliança municipalista. “Temos que defender a existência de uma agência bancária em cada município. Isso atende a demanda de diferentes segmentos da sociedade e de linhas políticas, nos dá a possibilidade de, se não determos o processo, podemos atenuar os efeitos da tecnologia sobre o fechamento de agência e de fechamento de postos de trabalho”.



Mas, para ele, há outras mediações importes a serem pensadas na defesa do Banco do Brasil. “Ele tem que ser pensado no conjunto dos bancos públicos federais, como ferramentas do desenvolvimento, sob a orientação de uma dada política econômica”, propôs.



Vidotto defendeu ainda a necessidade de considerar o perfil do BB como uma estatal de lógica financeira, por um lado, e de logica pública do outro. E, dentro disto, é preciso considerar os três modelos históricos do banco. “Há três modelos históricos verificados. O do governo FHC, que podemos chamar de neoliberal mitigado, caracterizado pela lógica privada na direção do banco, mantendo as estratégicas da política econômica. O outro é o do Bolsonaro, que podemos chamar de neoliberal hard, que aponta diretamente para a retirado do Estado do mercado financeiro. Por fim, temos o modelo social-desenvolvimentista de Lula e Dilma, que usou o BB como parte da política de desenvolvimento”.



Vidotto explicou que no modelo de FHC não se excluía o Estado em uma atuação no mercado financeiro e nem tinha essa estratégia. Um modelo que reconhece a existência das duas faces. O que diferencia o modelo de FHC do desenvolvimentista é que o primeiro coloca a face privada como determinante. Com Lula e Dilma, a face privada é uma condicionante, mas não determinante.



De acordo com ele, ao pensarmos o BB do futuro devemos evitar atribuir ao BB a capacidade de extrapolar as políticas econômicas. Por outro lado, além de trabalhar na agricultura e MPE, temos que mostrar a contribuição do BB na retomada econômica e criar as condições para, após 2022, dialogar com o maior número de setores. “A capacidade dos bancos públicos federais e do BB de tomar medidas que possam estimular a retomada econômica não pode ser subestimado”, disse.

 

Mudanças sociais

 

“Não conseguimos fazer as mudanças somente dentro do banco, tem que ser mudanças sociais”, resumiu Debora Fonseca, conselheira de Administração do Banco do Brasil eleita pelos funcionários. Para ela, o comportamento do governo Bolsonaro exclui completamente o lado social e que não leva em conta o papel do estado nas políticas de desenvolvimento.



Débora Fonseca descreveu o comportamento de presidentes do banco durante o governo Bolsonaro. “Antes de tudo, foram mudanças que trazem uma bagunça dentro do banco, o que o enfraquece. Passa uma imagem de fragilidade. Isso para que a população tenha uma visão ruim do banco e das outras empresas públicas. A intenção é fazer esse ataque para que a população se sinta desatendida”, analisou a conselheira. Na sua visão, o primeiro presidente do banco, Rubens Novaes, entra com a proposta de privatização, colocando empresa subsidiárias à venda. André Brandão, o segundo presidente, coloca uma restruturação dentro do banco que, para Debora, já estava escrita antes.

 

“As mudanças tecnológicas são irreversíveis. O que temos que discutir é um modelo em que a tecnologia esteja a favor dos funcionários e da sociedade, para atender as pessoas de forma mais humana, para crescer mais o banco. Não se deve colocar a tecnologia como substituto das pessoas”, afirmou a conselheira.



Outro ponto destacado por Debora foi que não existe mais a mesma atenção para o financiamento da agricultura familiar, o que geram um impacto na inflação dos alimentos, já que é a agricultura familiar a responsável por 70% dos alimentos fornecidos para o mercado interno. “O governo coloca recursos para o agronegócio”, diz. Para Débora, o futuro do Banco do Brasil passa pela contratação de maior número de funcionários, utilização da tecnologia em prol das pessoas e nas linhas de crédito que reflitam o crescimento e desenvolvimento social.

 

Fora Bolsonaro para termos o Brasil que queremos

 

Juliana Donato, ex-conselheira de Administração do Banco do Brasil eleita pelos funcionários e membro da coordenação da Campanha Nacional Fora Bolsonaro, foi a terceira convidada da mesa “O BB que queremos para o futuro do Brasil.”



“Por tudo que a gente viveu nos últimos anos e tudo que ouvimos neste congresso, acho que é evidente que temos um processo em aprofundamento da transformação do banco do Brasil em banco privado. As transformações que a gente sofre no Banco do Brasil são parte de um processo geral, de ataques aos direitos, ao patrimônio público, a vida dos brasileiros e que a luta em defesa do banco do Brasil como banco público de forma alguma pode estar separada da luta contra o Bolsonaro, contra o fascismo, por um outro projeto de país”, afirmou Juliana.



“Eu quero apresentar algumas ideias em relação ao projeto de banco público e ao projeto de país que a gente deve defender, mas – sobretudo – quero que minha fala seja um chamado à unidade, um chamado para a luta comum, para mobilizar os bancários, para que juntos a gente possa defender o que nos resta e a gente posta virar o jogo. Esse chamado tem a ver com uma visão de que nós temos, dentre tantas outras tarefas, uma tarefa principal e sobre isso acho que nós não podemos sair deste congresso sem nenhuma dúvida a nossa maior e principal tarefa hoje é derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. Eu acho que nós temos muitas diferenças estratégicas, mas isso não pode nos impedir de lutar juntos por essa tarefa principal”, completou a ex-conselheira de Administração do Banco do Brasil eleita pelos funcionários.



Juliana revelou o projeto que quer para o Banco do Brasil no futuro. “Nós queremos um banco que seja instrumento para reduzir ou acabar com a desigualdade social, um banco voltado para as necessidades do povo que mais precisa, crédito com jutos baixos beneficiando os pequenos produtores e não as grandes empresas, como é hoje, um banco que responda as necessidades da classe trabalhadora, que não trate os seus próprios trabalhadores como números. Esse é o banco do Brasil que nós queremos. ”



De acordo com ela, para ter um banco assim é preciso debater a necessidade de um banco público ser 100% estatal. “Eu acho que as duas lutas caminham juntas. Não tem como lutar em defesa do banco público sem lutar pela derrubada do Bolsonaro. Nós temos um governo de características fascistas, com um programa neoliberal e neste programa neoliberal há um acordo com toda a classe dominante. Então é preciso derrotar o facismo e também derrotar o programa neoliberal se a gente quer defender o banco público, os direitos e a vida do nosso povo. Fala hoje em defender direitos, em defender a vida, em defender o Banco do Brasil contra a privatização e poder avançar no futuro tudo isso implica em fortalecer a luta nas ruas contra o Bolsonaro.”

 

Desenvolvimento nacional

 

“Não é de hoje que defendemos o Banco do Brasil. Se pegarmos materiais elaborados anteriormente estará tudo nestes materiais. Mas, há uma coisa que temos que falar com os funcionários e a população, que trata-se de um projeto de desenvolvimento nacional”, disse Sergio Rosa, ex-presidente da Previ.



“A presença do BB no máximo de cidade, trabalhando com o máximo de pequenas empresas e o máximo de empregos, foi rompida com o golpe de 2016. Houve ruptura com esse projeto de desenvolvimento”, reforçou Rosa.



O dirigente sindical lembrou que no governo Lula e Dilma o Banco do Brasil era responsável pelo projeto de desenvolvimento de infraestrutura no país. “Mas, desde do golpe de 2016, a reclamação sobre a falta de infraestrutura deixou de fazer parte da pauta de reclamações do agronegócio, das grandes empresas, da direita de uma forma geral. A pauta pausou a ser o entreguismo, a privatização”, disse.



Para Sergio Rosa, a direita conseguiu impor uma narrativa para a sociedade de que é importante privatizar as estatais e reduzir os investimentos, do Estado. “Se formos comparar o que era o BB com a gestão anterior, com o FHC, veremos que durante o FHC não havia reajuste, não havia nenhuma política de valorização do funcionalismo, no entanto o funcionalismo foi atacado por esse discurso e entrou na onda do antipetismo”.



Ele disse que, após o golpe, houve um ataque ao projeto de desenvolvimento. “Se não voltarmos a costurar uma proposta da necessidade de desenvolvimento do país, ficaremos limitados nesta ação de defesa do BB. Temos que levar esse discurso para setores que tenham sintonia com esse discurso para conseguir vencer esse discurso.”



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